Na era Romana, os exércitos e a igreja já se organizavam numa estrutura piramidal onde no topo estava o Marechal, no caso militar, ou o Papa no que se refere à organização eclesiástica.
A representação gráfica desta estrutura organizacional é o conhecido organograma. Atribui-se aos egípcios a serem os pioneiros na utilização de gráficos para ilustrar a divisão do trabalho para grandes projetos como a construção das pirâmides.
Na era moderna, por volta de 1856, o norte americano Daniel C. MacCallum, Supervisor da Estrada de Ferro Erie em Nova York, foi o primeiro a utilizar o organograma para ordenar a hierarquia e a divisão de tarefas, sendo depois difundido pelas empresas mundo afora a partir de então.
Hierarquia é o termo que melhor define os organogramas verticais ou piramidais, que também são caracterizados pela inexistência da representação da figura do Cliente, rigidez na comunicação, pessoas acima e abaixo, relação chefe x subordinado e estrutura em níveis misturando as atividades fim com atividades meio.
Começando pelo Presidente segue-se uma infinidade de níveis: Diretores, Supervisores, Gerentes, Chefes de Divisão, Chefes de Departamento, Chefes de Setor e por aí vai, além das Assessorias. Quanto maior a empresa, mais níveis existem.
A representação gráfica do organograma de certa forma reflete a cultura da organização, ou seja, a prática cotidiana desta comunidade empresarial, militar ou de que natureza seja. No caso do organograma vertical utilizado pelos exércitos e copiado pela grande maioria das empresas, o Marechal manda e cada subordinado obedece até chegar ao soldado.
As empresas que utilizam este tipo de organograma estarão inspiradas pela cultura do “manda quem pode e obedece quem tem juízo” ou como preferem outros, “manda quem pode e obedece quem tem contas a pagar.”
Acontece que, numa comparação das empresas com as forças militares, os soldados são preparados para enfrentar inimigos e as pessoas da área operacional (base da pirâmide) devem lidar com clientes. Obviamente, cliente não deve ser tratado como inimigo, o que ainda acontece em muitas empresas, talvez, reflexo dessa cultura.
A atitude do tipo “você não é pago para pensar e sim para trabalhar” pode ter funcionado na Era Agrícola iniciada em 9.000 AC, quando o que tinha muita valia no trabalho eram os músculos.
Na Era Industrial, imortalizada e muito bem caracterizada no filme Tempos Modernos pelo magnífico Charles Chaplin, o suor, com a repetição das tarefas à exaustão, era a melhor expressão da obtenção de produtividade.
Há décadas vivemos a Era do Conhecimento onde suor deve ser transformado em cérebro e músculos em conhecimento.
As pessoas que vivem a Era do Conhecimento são os jovens da geração Y (nascidos entre o final da década de 70 e início dos anos 90) que estão atualmente em plena fase produtiva no mercado de trabalho.
Segundo pesquisadores, eles cresceram convivendo com a moderna tecnologia da TV a cabo, computadores, smartphones e principalmente a internet com acesso irrestrito à informação. Vivem em ação, estimulados por atividades, fazendo tarefas múltiplas. Acostumados a alcançarem suas ambições, não se sujeitam a serem subordinados para simplesmente acatar o que lhes é ordenado a fazer.
É comum que os jovens dessa geração busquem oportunidades que ofereçam maiores desafios e crescimento profissional (em detrimento até do salário) em organizações onde a cultura empresarial favoreça a relação Líder e Liderado ao invés da antiquada e ultrapassada relação Chefe x Subordinado.
Vale lembrar que, Subordinado, segundo o dicionário Michaelis significa: inferior, subalterno; que tem um papel secundário; indivíduo às ordens ou mando de outrem. O Carlos Brito, no início de sua carreira, declinou propostas com remunerações melhores e optou por trabalhar no grupo Garantia, justamente por identificar um ambiente corporativo favorável ao crescimento profissional. Atualmente é o CEO da multinacional AB Inbev e recebeu no ano passado o maior bônus da história já pago a um executivo.
Como criar então uma estrutura que espelhe uma cultura empresarial voltada a privilegiar o Cliente, que favoreça captar e reter jovens de talento, assim como criar um clima organizacional favorável a manter sempre motivados os maduros? Este tipo de estrutura empresarial é denominado Macroestrutura.
Macro não por ser grande e sim por permitir que se tenha a visão do todo, ou seja, desde o Cliente até o Acionista (no caso das S/A) ou Sócio Cotista (no caso das empresas limitadas).
Esses dois atores (Cliente e Acionista/Cotista) são denominados de Fontes de Vida, pois não se tem notícia na história da humanidade de empresa que possa viver sem um deles. O Acionista para aportar capital e conhecimento para iniciar a empresa e o Cliente para prover o fluxo de caixa necessário.
Qual deles é mais importante para a empresa? Será uma discussão parecida com “O que veio primeiro? O ovo ou a galinha?” Considerando que nenhum Acionista está disposto a colocar dinheiro eternamente numa empresa e que quem irá fazer isso continuamente será o Cliente satisfeito, vamos elegê-lo como ponto de partida, mantendo o Acionista como a outra Fonte de Vida que deseja receber o retorno do seu capital investido.
A estrutura organizacional e a cultura de uma empresa que deseja se organizar na forma de uma Macroestrutura, deve iniciar pela identificação das necessidades do Cliente, aqui citado no singular porque cada Cliente deve ser único e tratado como se fosse o único Cliente da empresa. Só haverá estrutura se houver Cliente.
Há que se considerar também o perfil das pessoas que irão interagir com esses Clientes, pois é muito comum, empresários investirem milhões em um ponto comercial, instalações e equipamentos, outros milhões em estoque, centenas de milhares ou mesmo milhões em publicidade com o objetivo primordial de atrair o Cliente até a sua loja e quando esse cidadão está lá pronto para comprar, se depara com uma pessoa despreparada para atender, encantar e vender. Todo esforço jogado fora!
A macroestrutura tem conceitos diferentes do organograma. Em primeiro lugar ela é horizontal ao invés de vertical e não se trata apenas de girar 90 graus o desenho. As premissas que a permeiam retratam uma mudança conceitual e vale destacar que existem dois tipos de mudança: a tecnológica e a conceitual. Na mudança tecnológica o princípio do produto é mantido e se implementa uma melhoria. Por exemplo: um computador que tem um HD de 500 Gb e velocidade de processamento de 1.000 Mz e se substitui esses componentes por um HD maior e um chip com capacidade de processamento mais veloz. Na mudança conceitual o conceito do produto fabricado é substancialmente modificado.
Os gramofones, radiolas, electrolas até os pick ups com agulha de diamante e amplificador separado das caixas de som, tinham o mesmo princípio: um disco que girava e uma agulha que atritava gerando um som nas caixas, cuja qualidade foi sendo melhorada gradativamente, todavia, mantendo o mesmo princípio.
O disk men é uma evolução conceitual, pois não há mais agulha e atrito. A verdadeira guinada conceitual se dá com o IPod e depois o Iphone onde tudo é eletrônico e a produtividade e a qualidade dá um salto exponencial. Outro conceito impregnado na macroestrutura é que não existem níveis separados entre si e sim apenas três âmbitos que se inter-relacionam: o Politico-Estratégico, o Estratégico-Empresarial e o Empresarial-Operacional, todos compostos por pessoas que influenciam e são influenciadas ao invés do eu mando e você obedece. Nessa linha de pensamento, o Toyota Corolla se tornou o carro mais vendido no mundo, onde os trabalhadores da linha de produção, ao longo dos anos em que o mesmo foi produzido, contribuíram com mais de um milhão de sugestões de melhoria e produtividade, mesmo sabendo que nem todas foram implementadas. Por fim a macroestrutura possui dois sistemas: Linha do Negócio e Apoio à Linha do negócio onde todos devem estar voltados a atender e encantar o Cliente. Na Linha estão aqueles que atuam junto ao Cliente (vendedores, por exemplo) e o os Líderes de quem atua junto ao Cliente. No Apoio, estão os serviços administrativos financeiros que devem estar a serviço da Linha e indiretamente, ao Cliente.
Costumo comparar os organogramas e macroestruturas com os gramofones e Iphones. Eu particularmente prefiro o Iphone. E você? Ainda gosta dos gramofones?
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